LP Caxtrinho "Queda Livre"

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Se a cronica anda ameacada pelo ritmo frenetico de producao e consumo de informacoes da contemporaneidade, Queda Livre e um disco que vem dar frescor ao genero. Ainda que em uma linguagem diferente, da musica em vez da literatura, nessas faixas esta manifesto o que ha de melhor na cronica: a valorizacao do olhar atento a miudeza da vida e do humor sobre o cotidiano — o trunfo do disco e faze-lo sem deixar de lado esse frenesi que e parte do nosso tempo, traduzido em doses cavalares de psicodelia. Mas, de prima, emerge um cronista. Queda Livre e o disco de estreia de Caxtrinho, como e conhecido Paulo Vitor Castro, de 25 anos, musico negro, periferico, criado na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Entre o samba e o rock psicodelico, seu album apresenta com humor rasgado e inventiva cozinha instrumental a experiencia vivida do negro no Brasil hoje.

Faixa que abre o disco, “Cria de BEL” e um autorretrato em transito. A cancao desloca o ouvinte do seu lugar — social, racial, geografico — para dar os primeiros passos dentro do territorio cantado junto com Caxtrinho, em que ser cria de BEL (abreviacao do municipio de Belford Roxo) e sentir debaixo da pele a demarcacao de uma diferenca: desde a formacao da subjetividade ate as desigualdades de classe que vao aparecendo conforme a historia avanca.

O samba vem de Caxtrinho e da sua heranca cultural do Candomble, que se estende da bisavo baiana ate o artista carioca que, naturalmente, cresceu entre o pandeiro e o tambor. Ja a cozinha do rock psicodelico vem dos guitarristas Eduardo Manso e Vovo Bebe. Também compoem a formacao do disco o baixista Joao Lourenco e o baterista Phill Fernandes.

Eleger para capa do disco uma obra do pintor carioca Arjan Martins tambem foi certeiro e e digno de nota. A tormenta e a ressaca do mar remetem a profusao sonora inventada por tantos musicos reunidos neste trabalho, em que samba e rock psicodelico se amigam e se transam o tempo todo. As telas de Arjan costumam ser divididas, nesse caso por uma corda e um remo, o que diz muito sobre o territorio e classe no Rio de Janeiro, esse cenario dividido que e atravessado e atravessa esses dois artistas negros. A frente, ha uma crianca e um adulto. Paulo Vitor e Caxtrinho: na frente de tudo, com uma caneta empunhada em direcao ao mundo e um violao de carranca — vivendo em queda livre.

— Thais Regina
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